Linguagem
(...) Esse tratamento de superfície que faz esse jogo de diferentes pinturas (a mesma pintura parecer várias), também acontece por essa pintura não se colocar como uma pintura basicamente frontal, como é de certa forma, uma característica da linguagem da pintura. Ela, por ter todas essas informações carregadas ali, tanto o desenho muito movimentado, a quantidade de cores convivendo e pensadas para essa convivência, [como] esse tratamento diferenciado da superfície... você tem a vista frontal, mas também tem vistas oblíquas que são tão interessantes quanto a vista frontal. Fazendo da pintura quase que uma escultura que você pudesse ver os vários lados diferentes, mas não, continua sendo uma pintura que você não precisa só ver de frente (...). In: Entrevista concedida ao Programa Atelier publicada em 05/05/2014. (Programa Atelier n 139 Pt 02)
Processo
(...) A superfície de tinta aplicada sobre a tela, ela varia um pouco, mas é sempre entorno de cinco milímetros de espessura de tinta acima da tela. Essa espessura é aplicada em três camadas. Uma primeira camada só para verificar se a cor é a cor ideal para aquela situação, para aquela relação de contrastes lado a lado, e contrastes óticos – quando você se afasta da pintura. E depois disso, então, vêm duas outras camadas de tinta. A segunda, colocando bastante matéria, bastante quantidade de tinta. E depois, essa [terceira camada] que vai definir esse tratamento de superfície (...). In: Entrevista concedida ao Programa Atelier publicada em 05/05/2014. (Programa Atelier n 139 Pt 02)
Cor
(...) Então, se a cor não “é”, e sim “está”, entendemos que ela tem em arte uma condição relativa e temporária. Ela tem uma condição relativa porque a cor é totalmente dependente de suas adjacências. E, ela tem uma condição temporária porque está subordinada a estados de luminosidade. Sendo assim, podemos dizer que na equação da arte, enquanto o desenho se configura como uma constante¹, a cor é uma variável².(...)
¹ Em um sentido trazido da física, significa valor independe que permanece invariável no decorrer de um processo particular.
² Em um sentido trazido da matemática, significa quantidade que pode assumir qualquer um dos valores de um conjunto de valores.
In: Imersão na cor. Texto da exposição coletiva de Francis Rodrigues, Leila Valebona, Marise Hauser e Miriam Fischer em Curitiba, em 2011.
Exposição
Alguém poderia dizer que belvedere é um lugar singular para onde se vai quando se quer desfrutar de um vasto panorama. Mas, a partir da posição em que me coloco, Belvedere é a proposta de uma situação privilegiada, na qual se interligam o observador e aquilo que é observado, ambos inscritos em um espaço/tempo apreensível por meio da ideia de deslocamento proposital, ora dos corpos, ora do olhar, ou de ambos simultaneamente.
Nesta situação, o observador é um sujeito ativo que pode ocupar várias posições diferentes no espaço em relação a um ou vários pontos de referência fora dele ao longo do tempo. Não há em Belvedere uma posição correta de observar, nem aquele ponto perspectivo para um olhar totalizante e unificado. Na situação provocada por Belvedere o observador se movimenta, o olhar é escaneador e o horizonte é outro em cada um desses deslocamentos. In: Belvedere. Texto da exposição individual de Lilian Gassen, em Curitiba, em 2009.
Arte
Arte é um problema que se desenvolve logicamente, porém sem solução. A falta de conclusão do problema não significa dizer que a arte não leva a lugar algum, mas sim, que ela chega a incontáveis lugares provisórios. Através dessa transitoriedade, podemos visualizar muitas características do problema, como:
- ele só existe dentro do tempo;
- durante seu desenvolvimento, as ocorrências mudam de lugar e de direção;
- logo, ele também depende do espaço.(...)
In: Observatório. Texto da exposição individual de Lilian Gassen, em Curitiba, em 2004.
Linguagens
Pintura é uma coisa que pode possuir um revestimento de uma ou mais superfícies com matéria. Esta coisa pode ser qualquer coisa, lona com ou sem caixilho, madeira, metal, papel, concreto, cadeira, plástico, queijo, uma pessoa, parede, pedra, couro, vidro, e etc. O revestimento pode não existir, dando lugar para as características da superfície, ou pode ser realizado de inúmeras maneiras, dependendo, às vezes, das características da matéria utilizada. Ele pode simplesmente cobrir a superfície ou parte dela, de maneira homogênea ou não, utilizando imagens reconhecíveis e irreconhecíveis, com ou sem formas orgânicas, inorgânicas e geométricas, pode ainda obedecer a padrões como malhas e moldes, ou técnicas de aplicação como estêncil, e técnicas de ocupação. As superfícies são da coisa, portanto vão obedecer as características desta coisa como, regularidade, forma, tamanho e textura, a não ser que sejam feitas alterações. Por fim, a matéria pode ser qualquer uma, tinta, lápis, óleo, chocolate, prego, resina, metal, cimento, adesivos, papel, ácido, maquilagem, tecido, talco, luz, coco, purpurina, pessoas, vidro, madeira... Uma boa pintura, talvez, seja o resultado da somatória perfeita destes elementos, não como 2 + 2 = 4, por que às vezes o que é mais lógico é também mais simplório. In: Pintura Desenho Objeto Fotografia. Texto da exposição coletiva Outro ponto de vista de Claudia Costa Claudia Washington, C.L. Salvaro, Lívia Piantavini, Lúcio Henrique Araújo, Otávio Roesner, Tatiana Stropp, Tony Camargo e William Machado, em Curitiba, 27 de maio de 2004.
Linguagens
Desenho é uma coisa que contém um resquício de uma atitude sobre um lugar. Como na pintura, esta coisa, pode ser qualquer coisa, o planeta por exemplo. Este resquício existe pelo acréscimo ou retirada de matéria, como quando se acrescenta terra a uma estrada para que ela se constitua, ou quando Moisés abre as águas do Mar Vermelho para ter um caminho. A atitude pode ser de infinitas naturezas, porém sempre vai estar submetida ao tempo e espaço. Ela pode ser exercida pelo próprio artista ou não, através de movimentos que podem partir de um ou mais membros do corpo ou de todo ele, e até por inúmeras pessoas ao mesmo tempo. Pode ser completamente independente da vontade do artista, ou obedecer a parâmetros que partam da coisa ou do artista. Já sobre o lugar, além de poder ser apenas uma superfície, ele pode ser o espaço, o céu, o Oceano Atlântico, tudo em fim ou sem fim. Um bom desenho passa a existir quando e onde ele deixa de ser exclusivamente limite, fronteira, circunscrição. Quando, além de construir sua própria fronteira, por que é inevitável, constrói também os artifícios de intercâmbio. In: Pintura Desenho Objeto Fotografia. Texto da exposição coletiva Outro ponto de vista de Claudia Costa Claudia Washington, C.L. Salvaro, Lívia Piantavini, Lúcio Henrique Araújo, Otávio Roesner, Tatiana Stropp, Tony Camargo e William Machado, em Curitiba, 27 de maio de 2004.
Arte
(...) É a situação em que estes materiais estão que estabelece a relação entre eles e dá sentido ao todo, e não uma diferença ou uma equivalência, ou ainda uma ordem pré dada. É como se a esfera, o óleo e o fio de prumo jamais pudessem ser unidos a não ser pela situação (estado, condição em que alguém ou algo se acha). In: Definição, 2ª versão (28/05/2002). Texto da exposição individual de Lívia Piantavini, em 2002.
Arte
(...) Agora, é a diferença material (constituição física, forma, função e características iconográficas) entre cada uma dessas partes que estabelece a relação entre elas e dá sentido ao todo, porque é na diferença que cada parte se afirma como parte reagindo ao que não é, delimitando seu território e sua função no trabalho. In: Definição, 2ª versão (28/05/2002). Texto da exposição individual de Lívia Piantavini, em 2002.
Processo
(...) Antes de fazer um trabalho eu passo muito tempo estudando a ideia dele, eu analiso se não tem elementos demais, eu faço um projeto, então eu observo bastante, fico estudando cada detalhe. Tento fazer várias leituras pra ver se não tem elementos que levem a leituras que não me interessem. Os leitores são diferentes. O leitor é subjetivo.(...) In: Declaração. Texto extraído da monografia de conclusão de curso Lilian Gassen: conceitos e trabalhos, em Curitiba, em 2000.
Linguagens
Observações sobre [parte]
Aslinhasquecortam,quemarcam,
aslinhasqueacariciamteucontorno,
asmesmaslinhasqueteimpedemdesertudo,
estaslinhas,divisasquemesmoassimtefazemtodo,
tododelinhas, cortado, todo dividido.
P a r t e.
In: Poema extraído do diário de criação de Lilian Gassen, 1998.